Façamos assim, chego em sua casa, expulso alguns dos seus familiares, que para mim não deveriam estar ali, reformo tua casa a partir das minhas necessidades, gastando quanto quiser do teu dinheiro e, para o teu bem, não deixo tu saber nem quanto gastei. tudo bem?
O que parece inaceitável à primeira vista, na prática é exatamente o que acontece quando um país é escolhido para que receba a Copa do Mundo de futebol. Após conceder ao país a “oportunidade” de realizar o torneio, a Federação Internacional de Futebol Association – FIFA –, entidade máxima do futebol mundial, faz uma série de exigências que nem sempre condizem com a realidade do país que se propõe a tal tarefa, e muito menos visam apenas interesses esportivos.
Em 2014 a Copa do Mundo será realizada no Brasil, mas aqui a promessa era que tu seria diferente, nada de dinheiro público para estádios, nada de benefícios “extras” para empresas privadas, o dinheiro público só poderia ser gasto com obras de beneficio público, hospitais, transportes, educação etc.
Entretanto... As obras começam a atrasar, as empresas que bancariam os gastos dos estádios não aparecem como esperado, a FIFA começa a pressionar. O Brasil será capaz de receber um Megaevento? Ou iremos pagar este “mico”?!
Precisamos voltar um pouco antes da escolha do Brasil enquanto sede. Já no fim de 2007, vários dirigentes foram à mídia pressionar o governo brasileiro pela falta de agilidade nas obras, pois, segundo eles, realizar uma Copa do Mundo “é um problema de Estado”. Em entrevista ao jornal F. de São Paulo, o diretor de relações internacionais da Federação Italiana, Sergio di Cesare, declarou que "o Brasil tem o melhor futebol do mundo e poderia, claro, organizar de novo uma Copa, mas um evento desta magnitude depende antes de tudo de apoio do governo”.
Declarações que entravam em total contraste com o discurso oficial adotado pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e pelo então presidente Lula, que afirmavam que esta seria a “Copa Privada”, sem uma participação direta de investimentos públicos em estádios, ou objetos particulares. Assim, “o dinheiro do povo deveria ser gasto com obras para o povo”.
Porém, não é o que se ver. Já foram gastos milhões de reais em reformas de estádios, por exemplo. Mas o que fez o poder público mudar até o seu discurso? Lembram das pressões pelo “atraso” das obras? A impossibilidade de realizar um grande evento? Enfim, o clima de catástrofe criado com as construções? E o tal “Espírito do brasileiro” de deixar tudo para ultima hora, e, assim, burlar regras?
Tudo isso tem sido usado para justificar a necessidade de investimentos do Estado em obras que apenas pessoas e organizações especificas serão beneficiadas, ausência de maior fiscalização das obras públicas, remoções injustificadas de milhares de famílias, concessão de isenção fiscal acima do normal junto com a liberação de capital, sem muitos tramites, para que as empresas acelerem as obras, dentre outras medidas já vem sendo adotadas para que possamos receber o torneio.
Medidas que trazem questionamentos quanto a quem são os verdadeiros beneficiados com estes Megaeventos esportivos, e que papel estes eventos cumprem.
É dessa forma que, por exemplo, tem-se transformado os estádios em modernas Arenas multiuso. Somente nas reformas do Maracanã, Mané Garrincha e do Mineirão, e na construção da Arena de Manaus, serão gastos mais de R$3 bilhões dos cofres públicos, segundo o ultimo levantamento. O que traz alguns questionamentos sobre que retorno real estes estádios darão após a Copa do Mundo, sendo que, por exemplo, Manaus e Brasília, hoje, se quer tem times na primeira divisão do Campeonato brasileiro. Alem disso, estas arenas encarecerão bastante o valor dos ingressos o que exclui, cada vez mais, grande parte da população brasileira dos estádios.
Não bastasse estas ações, o governo quer afastar de vez a participação da população do processo de construção destes eventos, excluindo até mesmo a possibilidade de acompanhar os gastos que serão feitos pelo Estado para a realização dos mesmos. Nesta semana, foi aprovado o texto básico para a medida provisória (MP) 527, que cria o Regime Diferenciado de Contratações (RDC) específico para as obras para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, no Rio, na qual está incluso a manutenção do sigilo do orçamento dos dois eventos. Caso seja mantido, a população não terá acesso aos gastos oficiais da União para a realização dos eventos. E, ainda, usando como justificativa “o interesse da Sociedade” para a utilização do sigilo, como afirma a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti.
A partir das ações já iniciadas até aqui fica claro, a que interesses estas medidas realmente representam, deixando as verdadeiras necessidades da sociedade de lado, a mercê dos objetivos puramente mercadológicos que os Megaeventos esportivos apresentam hoje.
Com este modelo, a Copa tem que ser bancada pela iniciativa privada, pelos bancos, assim, os bancos bancam todas as bancas da FIFA. E, a FIFA mediria mais as suas bancas, antes de querer bancar de moderninha exigente.
Por Dérek Sthéfano
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